O BURRINHO FOI RECLAMAR PARA DEUS.

 O BURRINHO FOI RECLAMAR PARA DEUS.

POR Nestor de Almeida.

 Você já chamou, foi chamado, ouviu alguém chamar ou ser chamado de burro, orelhudo, quadrúpede, asno?… Creio que sim! Sempre que alguém não desempenha bem uma atividade, tem dificuldade em aprender ou faz alguma coisa errada; lá vem às comparações com o animalzinho.

Pois bem! O burrinho não suportando tantas comparações negativas com ele todas as vezes que os homens fazem algumas coisas erradas, foi reclamar para Deus. Ele disse: ‘ – Deus! Meu Senhor e meu Criador, não aguento mais ver os homens chamarem seu semelhante de burro, asno, orelhudo, quadrúpede e outros nomes que lembram a mim, todas as vezes que eles cometem alguns erros. Até parece que faço tudo errado! Meu Senhor, veja se mereço essas comparações!

O Senhor criou-me para trabalhar e servir meu irmão homem e isso tenho feito muito bem: aro terra, puxo carroça, carrego meu irmão homem sobre o meu lombo sem reclamar. Já muitos dos homens quando são solicitados para fazerem algumas coisas, são tantas reclamações ou fazem tudo de qualquer jeito sem demonstrarem vontade e prazer pelo que estão fazendo como se o trabalho fosse um castigo. Mal sabem eles que um trabalho feito com determinação, com dedicação, pode abrir as portas para grandes oportunidades no mundo do trabalho. Eu sei que sou um pouco teimoso, mas quem neste mundo conseguiu tornar seus sonhos realidade, sem ser um pouco teimoso?   Muito bem que não recebi do Senhor a capacidade de sonhar. Sei que tenho um pouco de dificuldade para aprender, mas depois que aprendo não esqueço mais, já os homens… Bom, quem sou eu para julgá-los, sou apenas um burro.

Quando passo por um caminho e percebo que há um perigo que coloque eu ou quem estou transportando em risco, não tem nada neste mundo que me faça seguir em frente e nunca caio por duas vezes no mesmo erro. Já tem alguns homens que nunca aprendem com os próprios erros. Chamam-me de orelhudo, só que com minhas grandes orelhas consigo ouvir tudo que acontece por perto de mim e estou sempre a tento aos acontecimentos. Quando estou participando de um rodeio e tenho o peão sobre meu lombo, indico com minhas orelhas o lado que vou pular e mesmo assim o peão acaba caindo, não sei por quê?

Sei que, de vez em quando, dou algumas patadas, mas é só para defender a minha integridade. Já tem alguns homens, que fazem isso e nem sabem por que fazem. Meu senhor sabe que meus antepassados transportaram você e sua mãe, no lombo para fugir das garras dos soldados de Herodes e assim proteger sua vida. Já alguns dos homens estão lhe matando todos os dias na pessoa do seu semelhante sem piedade por motivos tão tolos. Estão tirando a vida até da natureza.

Senhor, estou progredindo, estou sendo treinado até conduzir deficiente visual, olha como estou evoluindo! Já tem homem que acha que sabe tudo e não precisa aprender mais nada e com isso está perdendo o seu lugar no mundo do trabalho, na sociedade. Senhor, isso foi só um desabafo, afinal reconheço as minhas limitações e apesar delas, sempre me esforço para fazer o que para mim foi solicitado. Posso não fazer como é esperado por meu dono, mas não meço esforço para fazer o melhor, embora nem saiba o que é o melhor.

Meu senhor e meu Criador, já desabafei. Agora só me resta dizer que tenho o maior prazer de ser sua criatura. Não tenho nada a reclamar por o senhor ter me criado com essa natureza, a minha reclamação é das comparações que os homens teimam em fazer entre mim e o seu semelhante. Tomara que eles queiram aprender de mim às coisas boas que sei fazer porque não quero aprender com eles as coisas ruins que eles sabem fazer. Se um dia precisar das minhas forças para transportá-lo em nome da vida, pode contar comigo meu Criador.  Afinal estou aqui para servir.

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